terça-feira, 30 de outubro de 2007

Testemunho

Ela estava seca. Seca naquele tempo infernal.
Seca. Seca sim! Sem vida...
A cada dia que se seguia eu a via empalidecer, murchar, morrer...

Entristeceu-me vê-la assim.
Parece que um pouco do colorido da minha vida se esvaiu junto com ela naqueles dias de calor intenso.
Fez-se sertão ante meus olhos.

Aquela que acolhia meu sono, minhas idéias e, às vezes, minha solidão agora espetava, arranhava...

Como faz diferença um dia de chuva!
Qual não foi minha surpresa, depois de vê-la praticamente morrer, ser testemunha de seu renascimento.
Acompanhar sua evolução dia após dia.

Fez-se vida novamente.
E meu lugar continua lá, ao pé da mesma árvore, onde me sento, leio, estudo e até durmo deitada naquela grama, há algumas semanas sem vida e hoje completamente verde, com cheirinho de terra molhada e com novos ramos surgindo a cada dia e a cada chuva.

Abençoada seja esta chuva!

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Póstuma

Não sou uma pessoa aficcionada pela idéia da morte, nem uma romântica, no sentido literário da palavra, daqueles que morriam aos 23 anos com tuberculose e faziam Ode à Morte. Apenas estou impressionada.
Nunca tive muito contato com a morte durante minha vida. Sempre pude me poupar desses momentos, mas ultimamente ando refletindo muito sobre essa força que tem me cercado. Na minha opinião, a única força que consegue ser mais forte do que a própria vida.
Em 15 dias, aproximadamente, morreram 6 pessoas próximas a mim de alguma forma. Ainda assim consegui me manter à distância, pois essas mortes não me atingiram diretamente, mas sim a pessoas ligadas a mim. Com isso, pude observar de forma distanciada como esse evento atinge as pessoas, fere, abala suas estruturas, e, ao mesmo tempo, de forma até paradoxal, como o mundo em volta segue normalmente. Falo isso até por mim mesma.
Não tenho nenhuma conclusão, porque na verdade nem sei qual é o meu conflito, precisava apenas derramar algumas palavras para confortar o meu coração. Ou melhor, para aquietar a minha cabeça ainda muito infantil para esse assunto.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

in(f)X(t)erno

- não quero mais!
- será que posso?
- não querer?
- não, querer...
- anh?
- não é mais isso
- mas não deixa de ser também
- mas quero que seja outra coisa
- então fala
- não posso falar
- porque não?
- porque não posso chegar soltando assim!
- mas assim, vai parecer que é só isso
- mas não é
- se você não falar, o que vão pensar?
- não sei, mas não têm que pensar nada
- ah, não?
- bem, na verdade, têm sim.
- nossa, que difícil!
- é, eu sei. pra mim também é.
- ah, facilita as coisas, vai.
- como? se é tão difícil até pra mim.
- fala de uma vez que não é nada disso.
- será?
- é. vai.
- acho que não. mais fácil demonstrar, não?!
- se vc não falar, nunca vão saber!
- será?
- ai, vai começar de novo...
- vamos tomar uma cerveja?
- não muda de assunto.
- não to mudando!
- como, não tá? o que a cerveja tem haver com isso?
- é só isso! vamos tomar uma cerveja?
- você tá querendo acabar com o assunto.
- às vezes a gente tem que recusar à alguma coisa que quer pra se poupar.
- ah! agora eu que falo: Vamos tomar uma!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

REFLEXOS E REFLEXÕES

Diga aí­ amigo...
Como vai você?
Estou aqui contigo
Você também me vê

Às vêzes sou seu clone
E você é o meu
Não temos o mesmo nome
Mas nossa vida se perdeu

Em encontros e desencontros
Do mesmo sopro
Que atravessa eu e você
Se estou contigo
É porque estás comigo
E nós não podemos nos perder

(hoje deixei que o Moska falasse por mim...)

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Suas tão minhas...

Hoje, conheci alguém que já conhecia
alguém que convivia, mas que nunca me havia sido apresentado dessa forma
alguém que me tocou profundamente com suas palavras, sem ainda ter a idéia de que as li.

Mas de que valem as palavras, se não para tocar os outros? - muito mais até do que a quem as escreve, às vezes...
Se é para isso que elas servem, você fez valer as suas.

Hoje, conheci alguém que escreve como eu queria escrever
que fala de coisas que eu queria dizer
que fala de mim, sem ao menos saber.

Hoje, me deliciei em percorrer suas linhas, suas palavras, seus pensamentos, suas confidências, seus escritos, muitas vezes quase tão meus.

Muito prazer!

(escrito após ler clandestinamente os escritos de um colega...)

domingo, 14 de outubro de 2007

Auto-retrato falado (ou rimado... inventado...)

Eu, que sempre quis ser alguém
e gostava de inventar alguém pra ser
quero hoje apenas ser eu mesma
mesmo às vezes sendo um Eu
diferente de mim mesma
quero hoje apenas saber quem sou.

Sou um pouco de muitos EU´s
um eu que ri
um eu que chora
um eu que sonha
um eu que voa e que ás vezes cai e machuca.

Quero apenas amar os meus amores
(mesmo os inventados, os platônicos e os sonhados)
chorar as minhas dores, meus temores, meus horrores
encantar-me com as flores,
me alegrar com suas cores, me embalar com seus odores
superar os meus pudores.

Quero apenas dançar a minha dança
viver cada mudança
brincar como criança
soltar a minha transa
conhecer, um dia, a França
aprender em cada andança.

Quero hoje fugir das correntes do domínio
e voar nas asas do fascínio.

Abrir os olhos ao desconhecido
me envolver nas páginas de um livro lido
erguer um sonho que estiver caído
encontrar o EU que estiver perdido.

Quero andar de peito aberto ao mistério
levar a vida só um pouco a sério
na imaginação, construir um grande império
onde amar não tem critério.

Quero que o vento penteie o meu cabelo
quero derreter cada coração de gelo
quero ser alguém que não precise sempre sê-lo
quero um arrepio que me levante cada pêlo.

Quero hoje abrir a minha mente
olhar o mundo com uma lente
econhecer gente que sente
"contentar-me de contente"
entender o inconsciente
abolir da vida o pente (isso eu já consegui!).

Quero tocar tambor no cortejo
e pedir a bênção, aproveitando o ensejo
quero um dia roubar um beijo
sem malícia, só desejo.

Quero aprender com a experiência
encantar com a minha essência
quero crer, também, na ciência
e, pela arte, ser luminescência.

Quero brincar de ser feliz
quero pintar o meu nariz
quero escapar só por um triz
quero viver como aprendiz.

Acalanto

meu menino moleque
meu menino...
meu menino manhoso
meu menino...
me deixe te mimar
me deixe te dar meu colo
me deixe te consolar
ouça meu acalanto
tentativa de encanto
pra te enfeitiçar
ah,
meu menino moleque
meu menino...
me deixe molhar tua boca
com o calor dos meus lábios
me deixe te dar carinho
te acolher em meus braços
me deixe matar tua sede,
tua fome, teus anseios
me deixe velar teu sono
recostado em meus seios
meu menino
meu moleque
meu medo
meu mistério
me deixe desvendar-te
me deixe encontrar-te
me deixe tentar...

Vá com Deus

(uma homenagem à Júlia)

Impotência!
É o que se sente perante a morte.
Tanta vida em volta, e ela reina soberana, aí percebemos o quanto somos pequnininhos e o quanto somos frágeis...
O quanto nossa vida não passa de um simples sopro.
Nessas horas, a garganta dá um nó e nos fecham as idéias.
Apesar de que, qualquer palavra que saísse seria realmente dispensável.
Uma vida se foi, e quantas outras ficaram chorando aquele corpo vazio que não está mais... já foi!
Quanta dor!
E em volta, nada se move? Como pode?
As outras pessoas, frias e ignorantes de tudo o que acontece, continuam levando suas vidinhas sem pensar nela, que chega de repente acabando com a festa.
Fica a saudade, a tristeza, a lembrança...
E a sensação de uma grande impotência!
Que vá com Deus...

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Papo cabeça

- Alô?
- Alo!
- Oi.
- Oi!
- Ah, é você!
- Sou eu.
- E aí!?
- Beleza?
- Ah, tranquilo. E você, o que tá arrumando?
- Nada demais e você? Sumiu.
- Nada... Tô por aí mesmo.
- Ah, legal!
- Pois é.
- Ou, então fica assim.
- Beleza! Aparece!
- Pó dexá!
- Então, tchau procê.
- Falou, então.
- Então tá!
- Tchau!
- Tchau!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Em "banho-Marina"

água fria sobre o fogo que ainda não se apagou
teimoso, ele
cozinhando, cozinhando...
quando a chama está em suas últimas fagulhas
um grande fole a tenta ativar
e resiste ainda um tempo
teimosa, ela
cozinhando, cozinhando
e se permitindo cozinhar
cometera este delito
porém seu maior deleite
quando o tentava incendiar
cozinhando, cozinhando
a chama, agora, acesa
mais água fria
teimoso, ele
ainda insistia
cozinhando, cozinhando

o bocal ainda está quente
a água, evaporando
a chama porém, apagou-se.