segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

desejos

A mesma moça, cujas unhas outrora foram vermelhas e agora eram de um rosa envelhecido, metálico e delicado, punha-se agora a desejar...

Desejava novos desejos, novos planos, novos sonhos...
Aventuras incessantes...

Desejava cores e linhas e formas e cheiros e sabores...

Desejava gente...
Olhos brilhantes
Sorrisos constantes
E garras e unhas e dedos e pele...

Desejava sons...
Palavras cativantes
Canções dançantes
Tambores retumbantes
Acordes dissonantes

Desejava riscos e risos e viscos e isto e aquilo.

Desejava tudo o que fosse possível desejar dentro daquele peito que cabia o mundo inteiro...

Ah, como ela desejava...
Queria tudo e tanto, que pintou cada unha de uma cor.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A moça das unhas vermelhas (parte 1... se terá outras partes? só Deus sabe!)

Acordou num dia sem compromissos e sem agenda... uma novidade em sua vida carregada, empurrada, levada...
Acordou e olhou para os seus pés. As unhas pintadas de vermelho. Outra novidade... Mas a esta, ja se acostumara e até gostara.
Acordou com aquela senasação de que não cabia em seu corpo. Um corpo não muito pequeno, mas mínimo para tantas dúvidas, vontades e anseios. Alguns sonhos, talvez. Poucos planos e nenhuma certeza.
Levantou sem muita vontade e sem motivo. Num dia como esse, tanto faz ficar na cama, ou levantar-se.
Não estava depressiva. Achava isso uma bobagem... Uma perda de tempo.
Tempo...
Estava passando. E ela, o que fazia?
Estava apenas desmotivada.

Voltou a olhar suas unhas, de um vermelho-sangue-claro, como ela nunca pensara em usar. Aprovou a ousadia. Ao menos uma em sua vida, que embora não fosse pacata, merecia um bocado mais de emoção...

"Quem não tem pra quem se dar, o dia é igual à noite..."

terça-feira, 27 de outubro de 2009

no tempo da escola

Um moleque!
è o que todos diziam...

Ia para a escola esperando o horário da saída, e o relógio parecia parar...
Olhando assim para aqueles ponteiros, não os via se mexer, não via a hora passar e apesar do seu olhar fixo naquele círculo branco com números e ponteiros e pontinhos... Mal percebia sua existência.
Pontos, ponteiros, pontinhos, pautas, partituras...
Sua mente voou...
Pegou então o livro bem à sua frente - matemática ou geografia? nem ao menos parou para saber - e o girou no dedo, como se cada volta que o livro desse representasse uma volta daqueles ponteiros naquele círculo branco pontilhado...
Girava com tanta propriedade aquele livro no seu dedo, que este mais parecia um pandeiro - instrumento tão redondo quanto o relógio e do qual ela tinha muito mais propriedade do que com o livro aberto em sua utilidade usual...
Um pandeiro!
E batucando aquele livro no ritmo de um envolvente samba canção antigo, tocado melodiosamente em sua mente, nem percebeu que em seu delírio tempo-musical-escolar o sinal bateu.
As pessoas ao redor, alheias à delícia musical que estava vivendo - muito mais instrutivas do que números, verbos e provérbios!- olharam com certa curiosidade aquele ser delirante, depois de uma aula inteira de presença ausente.
Quando de repente acordou e num baque certeiro de livros e cadernos se estatelando no chão, percebeu aquelas pessoas à sua volta.
Todos riram e simplesmente disseram àquela garota tão imersa em seu ritmo:

Um moleque!
Simplesmente, um moleque!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

d'Ela

Pela primeira vez não pensou em nada. Nada mesmo!
Uma delícia de loucura quase irresponsável antirealidadedospudorespaternosreligiososquepululamsuamentetododia...
Mas não dessa vez! Não naquela noite.
Tudo convergiu a favor e apenas sentiu e se deixou sentir...
Pele, boca, mãos, cabelos, suor, calor, frio...
Um encaixe quase maquinário, projetado, desenhado na silhueta recortada pela pouca luz de uma janela semi aberta.
O lençol lilás envolvia e amparava os corpos entregues... e as mentes...
Onde estavam???
Vai saber...

domingo, 20 de setembro de 2009

oquêquefica...

Hoje me deu vontade de escrever

Talvez sobre o canto dos pássaros que hoje cantavam mais alegre e vibrantemente do que cantavam ha algum tempo...
Ou talvez eu escreva sobre os carros, que hoje, pareciam de brinquedo numa pista Hot Weels
Ou quem sabe eu escreva das nuvens, mais macias, branquinhas e próximas, como num carrinho de algodão doce que passa na rua de vez em quando...

Queria escrever sobre pele, sabe?
Mais macia do que algodão doce, mais suave que o cantar de um pássaro, mais forte do que um atropelamento, mas machuca muito mais se for de brinquedo...

Não quero escrever sobre trabalho
Nem sobre coisas que me mechucam
Quero apenas externar minha leveza...

E quero ser leve assim todo dia!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Ah, as mentiras...

Tudo tem um tempo
Inclusive e principalmente mentiras
Desmentir?
Não é necessário!
A verdade sempre aparece...
Vem de onde nem se espera
Daquele que realmente te conhece

A mentira é uma teia
De uma aranha idiota
Que acaba presa na sua linha
E morre sufocada
Engasgada
Embasbacada no próprio veneno
É lava que sufoca
Que queima o próprio vulcão
No ato da erupção.

O alvo faz juz ao nome
Está no centro
Onde outros tentam acertar
Raros acertam...

Mas o alvo não deixa de ser um prêmio
Uma meta
Quase um sonho de consumo.
Por isso me lisongeio de ser alvo
Não preciso desmentir.

Uma hora, a verdade aparece!
Ah... Aparece!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Um salto e o escuro
Vento frio
Corre o rio
Pulo o muro

Para trás, risos e lágrimas
Quedam hoje sem dono
E eu vou
E eu vôo

Numa viagem solitária
Sigo, me libertando
Dessa prisão
Imaginária

Levo comigo
apenas meu corpo
Comigo,
nem as lembranças

Estas ficam pelo caminho
Aliviando o peso da bagagem
Diminuindo o pó da estrada
Suavizando o caminho da viagem

Um dia te encontro
Ou você me encontra, sei lá
Mas depois desse salto
Apenas libertar

Uns chamam de fuga
Outros, loucura
Outros ainda, sorte
Chamo apenas: morte.

Para alguém que decidiu saltar...
Queria apenas entender suas razões...

domingo, 24 de maio de 2009

(EM CONSTRUÇÃO) Desculpe-nos o trantorno... estamos trabalhando...

AAAAAhhhhhhhhhhh...
um grito seguido de silêncio.
um silêncio frio... cortante...
um silêncio ensurdecedor!

aquela angústia entrecortada de tristeza, sob uma capa de alegria e falsidade.

o peito tão frio quanto aquela cerveja numa noite de inverno.

quanta coisa, meu Deus! quanta coisa...

a lágrima quente escorrega na face gelada como se fosse um tobogã...
alheia ao motivo de ela estar ali, não se importa, e continua a descer, queimando a tês machucada pelo cansaço, quase se divertindo...
ao encontrar a boca, se dissipa num meio sorriso, e é engolida com um quase prazer...

aquela dor que se confunde e se difarça num cansaço... numa coisa qualquer que me esconda de mim mesma e me omita aquilo que só eu enchergo em mim...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

(Ex)PrEsSa

fala sem palavras e encherga mais do que o alcance das próprias pupilas
tem a pressa do tempo de outros
tem a vida e a alegria que já se foram

sem nostalgias ou saudosismos
é a lembrança dos sonhos com o futuro

são palavras que dizem
assim, quase sem querer
num diz-que-me-diz que quase não diz

e precisa?

é o toque que arrepia os pêlos pela pele onde passa
e pulsa...
e pára.

é um relógio antigo a soar o tempo com as notas da lembrança
um piano de cauda correndo atrás de um metrônomo descompassado

são corpos que passam, tranpassam, perpassam, ultrapassam
quase não páram... correm.
mas não se vêem... não se tocam... não se acolhem...

são pessoas sem nomes
beijos sem rostos
abraços sem peitos

são imagens e palavras
pincéis e tintas... são cores!
e azul... e vermelho... e lilás.

e li-las...

quarta-feira, 25 de março de 2009

queria um amor de fogo!
chama, chama, chama...
um amor vulcânico, feito de incêndio e lava.
um inferno de amor a me crepitar o peito.

(Raul Pompéia)