terça-feira, 27 de outubro de 2009

no tempo da escola

Um moleque!
è o que todos diziam...

Ia para a escola esperando o horário da saída, e o relógio parecia parar...
Olhando assim para aqueles ponteiros, não os via se mexer, não via a hora passar e apesar do seu olhar fixo naquele círculo branco com números e ponteiros e pontinhos... Mal percebia sua existência.
Pontos, ponteiros, pontinhos, pautas, partituras...
Sua mente voou...
Pegou então o livro bem à sua frente - matemática ou geografia? nem ao menos parou para saber - e o girou no dedo, como se cada volta que o livro desse representasse uma volta daqueles ponteiros naquele círculo branco pontilhado...
Girava com tanta propriedade aquele livro no seu dedo, que este mais parecia um pandeiro - instrumento tão redondo quanto o relógio e do qual ela tinha muito mais propriedade do que com o livro aberto em sua utilidade usual...
Um pandeiro!
E batucando aquele livro no ritmo de um envolvente samba canção antigo, tocado melodiosamente em sua mente, nem percebeu que em seu delírio tempo-musical-escolar o sinal bateu.
As pessoas ao redor, alheias à delícia musical que estava vivendo - muito mais instrutivas do que números, verbos e provérbios!- olharam com certa curiosidade aquele ser delirante, depois de uma aula inteira de presença ausente.
Quando de repente acordou e num baque certeiro de livros e cadernos se estatelando no chão, percebeu aquelas pessoas à sua volta.
Todos riram e simplesmente disseram àquela garota tão imersa em seu ritmo:

Um moleque!
Simplesmente, um moleque!

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