quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Meus Reflexos no Espectro de Clarisse

Ai que vontade de voltar a ser minha
Dona das minhas vontades e das minhas paixões
Que vontade de voar
Alçar vôos longos e alcançar outros mundos
De sair do meu mundinho de faz de conta
"Faz de conta que ela era uma princesa azul
Faz de conta que ela amava e era amada
Faz de conta que não precisava morrer de saudade
Faz de conta que vivia..."
Faz de conta que voava
Mas tenho as asas quebradas
"E estou cansada
Não suporto mais a rotina de me ser"
Nada acontece e tudo ao mesmo tempo
Queria ser dona do meu tempo
Ajustar ao meu relógio
O tempo dos meus sonhos
Para que o despertador não me acorde mais
antes de acontecer o ansiado
ou depois que de acontecida a decepção
Mas ainda sonho
"Faz de conta que vivia e que não estivesse morrendo
pois viver afinal não passava de se aproximar
cada vez mais da morte"
Ah, como eu queria morrer só um pouquinho
pois dormir já não descansa mais
"Não se assustem, morrer é um instante,
passa logo, eu sei"
E como eu sei...
Pois eu me morro "simbolicamente todos os dias"
Ah que vontade de adocicar minhas ilusões
com o melado daquilo que é inconsciente
Que adocica e venda e impede
Impede aquilo que me impede de iludir-me total e cegamente.
"Ah que vontade de alegria.
Estou agora me esforçando para rir em grande gargalhada.
Mas não sei porque não rio."
Talvez porque tenho sono
E meu corpo quase ja não me responde.
Talvez eu sonhe esta noite
E num desses sonhos perceba que a minha vida está mudada.
E eu acorde grávida!
"Uma pessoa grávida de futuro."
E de caminhos, e de estradas, e de sonhos...
Uma pessoa grávida de desejo!
"Ela sabia o que era o desejo - embora não soubesse que sabia.
Era assim: ficava faminta mas não de comida,
era um gosto meio doloroso que subia do baixo-ventre
e arrepiava o bico dos seios e os braços vazios sem abraço.
(...)
Tudo de repente era muito e muito
e tão amplo que ela sentiu vontade de chorar.
Mas não chorou: seus olhos faiscavam como o sol que morria."

"E agora - agora só me resta acender um cigarro e ir para casa.
Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. "

Inserção de fragmentos tirados de "Espectro de Clarisse", roteiro teatral que se baseia no texto "A Hora da Estrela" e na biografia da autora Clarisse Lispector.

5 comentários:

André disse...

quando eu leio essas coisas eu fico com vergonha de escrever.
saudade de teus textos marina! Você exala inspiração. =)

André disse...

onde está você??

meus instantes e momentos disse...

gostei daqui, fou bom ter vindo.
Maurizio

Beta Profice disse...

Aiiii adorei, pensei em mil palavras pra comentar mas, nenhuma delas conseguiria definir o tanto que eu gostei!!!!
Voltarei sempre!
Beijos*

André disse...

marinaaaaaaaaa!
escreva